A foca
Anoitece e então começa meu dia. Meu lamento morno subindo ainda quente a garganta adormecida. Espreguiço-me tentando afastar de mim o véu brumoso que pesa as pálpebras e fecha os olhos. Conquisto minha independência quase que num cruzar de espadas e, desvalido, luto. Luto desvalido. Os olhares são fortes e conseguem ainda me arder a pele. Meus olhos ofuscados buscam o breu. A brisa acaricia e convida meus ouvidos ao passeio. Sinto-me rendido e, assim, deixo-me levar. Os passos se desencontram em perfeita harmonia e posso, então, ouvir música. Melodiosa, a terra sobe os dedos e entra na valsa. Fico sinestésico. O toque do luar é suave no tapa. O aroma do campo me excita. Sinto arrepios, e cada vez mais profundos. Ouço ressoar o grito que tento dar. Mas sai calado e a alma aflige a carne. Debato-me entre agonias e gozos. Vem a dor e faz companhia. Desfaço-me em contorções pornográficas, mas cuspo; é sujo. Sinto-me sujo.
Agora já lambo. Quero lamber.
2 Comentário(s):
O toque do luar é suave no tapa.
'
majestic.
Obrigado. Sendo um elogio seu, significa muito! :)
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