Magia Elemental

Aquela macieira foi muito presente na minha infância. Ficava umas duas léguas da sede do sítio do vovô Alceu e seus galhos robustos eram a sustentação que eu precisava pra me esconder depois de um malfeito. Dali dava pra se avistar o horizonte longe melhor que de qualquer outro lugar. Fosse o nascer ou o se pôr do sol, dali, ficavam mais claros e bonitos. Arrebol igual não havia. Majestoso, simples! Sem ser simplório. De forma alguma.
Não sei exatamente porquê não davam àquela árvore toda atenção que lhe deveria ser designada. Para mim, não havia mais nada de importante durante os verões no sítio. Hoje soa como uma grande bobagem, mas as frutas que ela dava em formato de coração tinham gosto de amor. Ou de amizade. Criança não distingue bem. Ou não há assim distinção tão clara. Não sei dizer, nem guardo mais direita a lembrança do sabor. Indescritível, além de tudo. Dulcíssimo ao paladar alheio, incapaz de apreciar da maneira correta aspectos além do que se cheirava e saboreava.
Desconheço o fim que teve meu pé de maçã do amor. Disseram alguns que havia sido cortado. Ou imaginei. A verdade, talvez, é que eu tenha crescido e desaprendi a degustar toda aquela pequena maravilha que me era tão cara em outros tempos. Essa versão mais provável do que houve me dói mais do que a que passei a acreditar com fé, igualmente dolorida, sem o pesar de arrependimentos, porém.